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terça-feira, 15 de outubro de 2024

A LUTA PELA ATENÇÃO FAMILIAR NA ERA DOS SMARTPHONES

 

Então, Maria levantou cedo como de costume aos domingos, foi à padaria comprar pães e frios e depois passou na feira comprar frutas, verduras e legumes. Mas aquele não era um domingo qualquer; era o aniversário do Pedro, seu marido. 

O dia estava lindo, com ar fresco, porém ensolarado, e lá foi Maria, alegre ao seu destino. Fez suas compras, voltou para casa e preparou "aquele" café da manhã para o seu marido e seus dois filhos.

Lá pelas nove horas, o café já estava na mesa, mas ninguém havia acordado. Maria aguardou mais um pouco, afinal, todo mundo gosta de dormir até tarde aos domingos.

Dez horas e nada. Ainda estavam dormindo...

Maria já estava impaciente, então, com cautela, bateu na porta do quarto dos filhos e lá estavam eles no celular. Chamou-os para tomarem café, e eles responderam grosseiramente: — Não enche, mãe, não está vendo que estamos jogando?

Maria abaixou a cabeça e foi para o quarto em que o marido estava. Chegou toda feliz e lhe disse: — Parabéns, meu amor. Que Deus lhe abençoe sempre. — Só que Pedro não gostou do que ela disse e esbravejou: — Você poderia ao menos ter batido na porta para avisar que está entrando, não está vendo que eu estou ocupado aqui no celular?

Maria pediu desculpas, fechou a porta e foi embora. Triste e sem entender tais comportamentos, foi até a casa da sua vizinha. Bateu na porta e Joana veio ao seu encontro:— Bom dia, Maria. Tudo certo para o almoço de aniversário do Pedro? 

— Não, Joana. Não tem nada certo. Fui à feira, à padaria, fiz uma mesa linda de café da manhã e ninguém quis tomá-lo porque estavam ocupados no celular. Eu não aguento mais essa vida. O celular entrou na minha casa para acabar com a nossa família. Pedro diz que está estudando, mas estudando o quê se ele não sabe ler ou escrever? Não estou entendendo o que está acontecendo com o ser humano.

— Maria, não fique assim, aqui em casa as coisas não são diferentes. O meu marido retrocedeu vinte anos; ele pensa que está aprendendo alguma coisa, mas, na verdade, ele desaprendeu tudo. Os pais dele lhe ensinaram a ser educado, solícito, humano, e agora ele perdeu todos esses princípios. Ele anda pela casa como se fosse um zumbi, com o fone de ouvido, não vê e não ouve nada ao seu redor. O seu corpo está se definhando, as costas, curvadas. Ele está acabando com a saúde. Só me ouve quando lhe convém, quando não, me dá as costas e vai embora. Mas eu estou aprendendo a lidar com isso, infelizmente, com a mesma moeda. Faço a comida; se ele quer comer bem, que coma; se não quer, que passe fome. Não vou gastar a minha saúde e a minha vida por um homem da caverna. E quer um conselho? Faça o mesmo.

Maria ficou pensativa e respondeu: — Você tem razão, vou para casa tomar o café sozinha; farei o almoço e almoçarei. Não tenho mais tempo para me preocupar com essas adversidades; estou fazendo a minha parte e espero que cada um faça a sua. A vida é preciosa demais para ser reduzida a uma tela de celular, onde muitas vezes nos distraímos com inverdades e perdemos momentos valiosos. Tenho minhas próprias convicções e não posso deixar que a opinião dos outros ditem meu caminho. Cada um deve trilhar sua jornada com autonomia. Vou seguir o seu conselho, Joana. Vou viver minha vida da melhor maneira que posso, valorizando quem realmente importa.

De volta à sua casa, Maria olhou para a mesa do café da manhã intocada. Sentou-se, pegou uma xícara de café e, em silêncio, começou a comer. Um sorriso leve surgiu em seu rosto. O mundo ao seu redor pode estar absorvido pelas telas, mas ela ainda sabia como apreciar os pequenos momentos. E naquele instante, escolheu não se perder neles também.

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

ESPELHO, ESPELHO MEU: O SUBCONSCIENTE DITANDO AS REGRAS

 

Imagine a cena: você está se preparando para uma noite de diversão com os amigos e capricha no visual, escolhendo cada peça que combina com seu estilo. Opta por uma blusinha florida, toda colorida, uma calça preta, brincos de argola médios, e um scarpin preto. De repente, surge a crítica mais severa que existe — e olha que ela nem foi convidada! A voz do subconsciente, que deveria estar de plantão cuidando dos sonhos e das memórias esquecidas, resolve se meter na moda.

— Olha que modelito chamativo, é assim que você quer se apresentar na festa? — zomba a vozinha interior.

Com a autoestima que estava lá no alto, tipo um arranha-céu, você a vê despencar como um elevador sem freio. Mas você não desiste fácil; é uma guerreira da moda!

— Estou me sentindo uma diva, maravilhosa, e ninguém vai me convencer do contrário! — você retruca, se olhando no espelho.

— Maravilhosa ou cafona? Tudo bem que você gosta de se destacar, mas esse seu estilo superou qualquer carnavalesco — continua zombando a voz interior.

Dominada pela autocrítica, você começa a se autoanalisar em frente ao espelho e, com um ar de quem já perdeu, resolve trocar de roupa: coloca uma, tira outra. E se fosse com essa? Ou aquela? Você começa a girar diante do espelho, buscando ângulos onde só um subconsciente imaginativo poderia ver defeitos.

— Que tal vestir algo mais sóbrio? Quem sabe um pretinho básico que nunca faz feio? — insiste a voz severa.

Você cede, coloca uma blusinha preta, um acessório mais discreto e dá uma última olhada. Ainda não é a mesma coisa, mas a vozinha já está satisfeita: — Assim está ótimo! Agora você vai arrasar na passarela da vida real!

Após esse embate interno, você sente que a energia para a noite já não é a mesma. Com um sorriso que tenta disfarçar a frustração, você alcança o telefone e faz a ligação que preferia evitar: — Oi, amiga, sobre o nosso programa de hoje... Acho que vou precisar remarcar. Acabei me envolvendo numa sessão de autoanálise fashion bem intensa aqui, e agora preciso de um tempo para reavaliar meu estilo e meu ânimo. Que tal a gente se encontrar quando eu estiver pronta para brilhar de novo?

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

NAS PROFUNDEZAS DO LUTO

Imagine-se andando por um bosque lindo, cheio de árvores, flores e um lago repleto de peixes coloridos. Abelhas polinizam as flores enquanto os pássaros cantam alegremente. É um lugar encantador. Você caminha, aprecia a beleza, sente o perfume das flores, alimenta os patos, joga pedras no lago e aproveita tudo o que a natureza oferece naquele momento. 

À medida que segue em frente, olhando para a beleza da natureza e com a certeza de que estava blindada das coisas ruins, algo inesperado acontece. Você pisa em um buraco, uma armadilha do destino, e, sem conseguir controlar o peso do corpo, despenca descontroladamente. Durante a queda, você perde o controle do corpo e da mente, incapaz de pensar em qualquer coisa, apenas sente-se caindo em um poço profundo, sem a menor ideia do que encontrará no fundo. Enquanto continua a cair, flashes da sua vida passam pela sua mente: risadas, lágrimas, vitórias, derrotas — é como se estivesse assistindo a um filme. E, com a rapidez de um raio, você continua a despencar. Sem saber quanto tempo a queda vai durar e sem imaginar a dor que o impacto causará, você continua a despencar.

Então, você finalmente atinge o fundo do poço. O impacto é forte, como se um meteoro tivesse caído na Terra. Você fica paralisada, incapaz de se mover, com apenas os olhos ainda funcionando. A dor é tão intensa que paralisa sua respiração, e ofegante, você luta para conseguir um pouco de ar. Respirar, após o impacto, não é uma tarefa fácil. Seus olhos estão arregalados e seu cérebro luta para retomar o controle, enquanto você tenta desesperadamente capturar algum ar — afinal, você precisa sobreviver, não é mesmo?

Seus membros começam a se mexer, o que é um bom sinal. Sua mente, lentamente, volta ao normal, e você percebe que realmente está no fundo dum poço. Chegou ao limite, e agora terá que lutar para voltar ao lugar de onde veio, mas como? Aquele local é verdadeiramente assustador, o que chega a dar calafrios. Há um cheiro de enxofre no ar, musgos e terra úmida cobrem o solo, onde apenas alguns insetos sobrevivem. Ainda deitada e olhando para o alto, você enxerga acima uma pequena circunferência iluminada, talvez pelo sol, e pensa: "Como vou ver a luz do sol novamente se não tenho forças nem para mover os olhos?" Mas, você precisa sair daquele buraco. Precisa sobreviver. Então, com muita dor pelo corpo, você se senta e tenta se levantar, mas as dores são intensas e parecem impedir qualquer movimento. Com cautela, você começa a se mexer e, aos poucos, consegue ficar de pé. Observa ao redor, mas não enxerga nada por causa da escuridão. Ao colocar a mão à frente, sente a terra úmida e os musgos. Tateando ao redor, você gira em todas as direções, tentando criar uma estratégia para subir.


A SUBIDA


A primeira coisa a fazer é ter certeza de que realmente quer sair daquele buraco, afinal, você tem uma vida para seguir. Mas então você se pergunta: será que quero seguir adiante ou prefiro permanecer aqui, neste lugar frio e escuro?

No entanto, seu subconsciente quer sair daquele lugar o mais rápido possível; ele não suporta mais vê-la sofrer. Ele sente o seu coração se dilacerando aos poucos, uma dor indescritível, como se todas as armas frias e pontiagudas tivessem seu coração como alvo, atacando-o sem dó nem piedade. A dor é intensa. Seu subconsciente luta com todas as suas forças para impedir essa dor e, ao mesmo tempo, para sair daquele lugar. Então, com cautela, ele implora para que você se fortaleça, para que se reergue. "Vamos, você consegue!"

Você o escuta e, controlando a dor no peito, começa a se arrastar contra a parede. Vai subindo devagar, cravando os dedos naquela terra úmida até as pontas sangrarem. Com insistência, lutando contra todas as forças do mal, você continua a subir. Olha para o alto e vê a luz do sol mais próxima, pensando: “Logo irei te alcançar.” E, ainda chorando de dor, você segue, porque agora quer sair, quer viver, quer sentir a alegria da vida.

Mesmo com cicatrizes profundas, ao alcançar a luz, você entende que a vida continua, e que, embora a dor nunca desapareça por completo, cada passo adiante é uma homenagem àqueles que amamos e perdemos.