Então, Maria levantou cedo como de costume aos domingos, foi à padaria comprar pães e frios e depois passou na feira comprar frutas, verduras e legumes. Mas aquele não era um domingo qualquer; era o aniversário do Pedro, seu marido.
O dia estava lindo, com ar fresco, porém ensolarado, e lá foi Maria, alegre ao seu destino. Fez suas compras, voltou para casa e preparou "aquele" café da manhã para o seu marido e seus dois filhos.
Lá pelas nove horas, o café já estava na mesa,
mas ninguém havia acordado. Maria aguardou mais um pouco, afinal, todo mundo
gosta de dormir até tarde aos domingos.
Dez horas e nada. Ainda estavam dormindo...
Maria já estava impaciente, então, com cautela,
bateu na porta do quarto dos filhos e lá estavam eles no celular. Chamou-os
para tomarem café, e eles responderam grosseiramente: — Não enche, mãe, não
está vendo que estamos jogando?
Maria abaixou a cabeça e foi para o quarto em
que o marido estava. Chegou toda feliz e lhe disse: — Parabéns, meu amor. Que
Deus lhe abençoe sempre. — Só que Pedro não gostou do que ela disse e
esbravejou: — Você poderia ao menos ter batido na porta para avisar que está
entrando, não está vendo que eu estou ocupado aqui no celular?
Maria pediu desculpas, fechou a porta e foi embora. Triste e sem entender tais comportamentos, foi até a casa da sua vizinha. Bateu na porta e Joana veio ao seu encontro:— Bom dia, Maria. Tudo certo para o almoço de aniversário do Pedro?
— Não, Joana. Não tem nada certo. Fui à feira,
à padaria, fiz uma mesa linda de café da manhã e ninguém quis tomá-lo porque
estavam ocupados no celular. Eu não aguento mais essa vida. O celular entrou na
minha casa para acabar com a nossa família. Pedro diz que está estudando, mas
estudando o quê se ele não sabe ler ou escrever? Não estou entendendo o que
está acontecendo com o ser humano.
— Maria, não fique assim, aqui em casa as
coisas não são diferentes. O meu marido retrocedeu vinte anos; ele pensa que
está aprendendo alguma coisa, mas, na verdade, ele desaprendeu tudo. Os pais
dele lhe ensinaram a ser educado, solícito, humano, e agora ele perdeu todos
esses princípios. Ele anda pela casa como se fosse um zumbi, com o fone de
ouvido, não vê e não ouve nada ao seu redor. O seu corpo está se definhando, as
costas, curvadas. Ele está acabando com a saúde. Só me ouve quando lhe convém,
quando não, me dá as costas e vai embora. Mas eu estou aprendendo a lidar com
isso, infelizmente, com a mesma moeda. Faço a comida; se ele quer comer bem,
que coma; se não quer, que passe fome. Não vou gastar a minha saúde e a minha
vida por um homem da caverna. E quer um conselho? Faça o mesmo.
Maria ficou pensativa e respondeu: — Você tem
razão, vou para casa tomar o café sozinha; farei o almoço e almoçarei. Não
tenho mais tempo para me preocupar com essas adversidades; estou fazendo a
minha parte e espero que cada um faça a sua. A vida é preciosa demais para ser
reduzida a uma tela de celular, onde muitas vezes nos distraímos com inverdades
e perdemos momentos valiosos. Tenho minhas próprias convicções e não posso
deixar que a opinião dos outros ditem meu caminho. Cada um deve trilhar sua
jornada com autonomia. Vou seguir o seu conselho, Joana. Vou viver minha vida
da melhor maneira que posso, valorizando quem realmente importa.
De volta à sua casa, Maria olhou para a mesa do
café da manhã intocada. Sentou-se, pegou uma xícara de café e, em silêncio,
começou a comer. Um sorriso leve surgiu em seu rosto. O mundo ao seu redor pode
estar absorvido pelas telas, mas ela ainda sabia como apreciar os pequenos
momentos. E naquele instante, escolheu não se perder neles também.
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